Boeing 737-800 da Gol (Foto: Aidan Formigoni)
Constantino de Oliveira Júnior, à época com 31 anos de idade, tornou-se um dos mais jovens CEOs brasileiros, ao assumir, em agosto de 2000, a presidência da Gol Linhas Aéreas, fundada por seu pai, o empresário mineiro Constantino de Oliveira, mais conhecido como Nenê Constantino. Amante do automobilismo, Constantino Júnior pisou pesado no acelerador: desde então, a Gol, que em 2007 arrematou a Varig, não parou de crescer, ocupando hoje a vice-liderança do mercado nacional de aviação, nas pegadas da TAM.
Em entrevista a Letícia Bragaglia, da coluna “Ser empresário”, do site Economia & Negócios do Portal do Estadão, o presidente da Gol falou sobre a criação de um portal de viagem, o custo das passagens no Brasil e sobre a disputa com a TAM pela liderança do mercado brasileiro. “Não temos como objetivo o crescimento de nossa participação de mercado”, diz Constantino Júnior. “Participação pode ser ouro de tolo.” Abaixo, trechos da entrevista, que será exibida na íntegra no Portal a partir desta quarta feira.

Quando a Azul entrou no mercado brasileiro, em dezembro de 2008, o sr. disse que a concorrência o motiva. De que forma?
A competição sempre é saudável. Nós temos de correr atrás de aprimoramento. Acordar cedo. Trabalhar um pouco mais. E fazer acontecer aquilo que a gente espera. A concorrência, de certa forma, nos tira da zona de conforto, pois nos obriga a fazer isso.
O sr. quer superar a TAM?
Não temos como objetivo o crescimento de nossa participação de mercado. Em determinados momentos, a participação pode ser ouro de tolo. Vemos muitas empresas comprando participação de mercado sem uma visão de como reverter essa situação num futuro próximo. A Gol nasceu com um propósito muito claro, de popularizar o transporte aéreo, com baixo custo, e fizemos isso desde o primeiro ano, em 2000. Se você observar, os preços das passagens aéreas estão em queda ao longo do tempo e cada vez mais pessoas estão viajando. Em 2009, cerca de 10% de nossos passageiros estavam pegando avião pela primeira vez. Não temos o objetivo de ser líderes. Queremos ser a empresa preferida de quem viaja a negócios, a lazer ou vai visitar a família, sem comprometer os pilares que sustentaram nosso crescimento até hoje.
Mas a passagem aérea no Brasil ainda é muito cara.
Não acredito que os preços das tarifas aéreas sejam caras no Brasil. A política da Gol é oferecer passagens competitivas em relação às tarifas de ônibus para todos os destinos em que opera. As exceções são a antecedência de compra e o tempo mínimo de permanência, que servem para segmentar os clientes.
Quais são os planos da Gol para 2010?
Temos vários planos e todos eles passam por ganhos de produtividade ou de redução de custo, gerando conveniência. Portanto, vamos focar em iniciativas como a venda a bordo. Atualmente, vendemos uma alimentação um pouco mais robusta, como bebidas, iogurtes e chocolates, em cerca de 50 voos, e queremos estender isso para um total de 500, dos 900 voos que realizamos diariamente. Essa é uma opção para o cliente. Para a Gol representa redução de custo em relação ao serviço tradicional e oferece a possibilidade de obter receitas adicionais. Além disso, vamos transformar nosso site de passagens aéreas num portal de viagens, ainda no primeiro semestre. Será um portal de viagem no qual o cliente poderá fazer a compra de seu bilhete aéreo e de atividades relacionadas ao destino, como aluguel de carro, ingressos para eventos culturais e hospedagem em hotéis, pagando apenas uma fatura. Também queremos estimular o check-in pelo celular, para que o cliente possa ir direto para o portão de embarque, sem precisar passar pelos guichês, o que ainda diminui os nossos custos.
Como o sr. vê a temperatura econômica, especialmente com os recentes desdobramentos da crise na Europa?
Após ter explodido a crise na Grécia, Espanha e Portugal, a gente vê que vivemos numa Ilha de Fantasia, no bom sentido. O Brasil ainda se destaca com outro ambiente de negócios e situação econômica diferente. Acho que o mercado externo anda muito focado na crise. Todo mundo está com expectativas negativas, enquanto, no Brasil, há alguns setores, como a aviação civil, por exemplo, em que as perspectivas são muito boas.
O sr. teme o rumo das eleições neste ano?
Naturalmente existe um temor, mas a linha de condução das políticas monetária e fiscal não deve variar muito. Pode mudar o estilo, o jeito de fazer, mas não as linhas que definem a política econômica do País.
Fonte: Estadão